domingo, 20 de fevereiro de 2011

Capítulo 6

Oláaa!!
Ai, ai, devo desculpas pela demora deste post.
Comecei a escrever esta história por não poder deixar ela tomar conta de mim. Bom, essa semana não deu para segurar muito, por isso o atraso. Desculpem, vou tentar não deixar mais isso acontecer. ^^'
Sem mais delongas... o capítulo 6!
Boa leitura e até breve!


6

            Acordei com o despertador – maldita máquina pontual. Senti meus olhos secos e ardidos. Acho que chorei até cair no sono. Lembrei o porque de chorar, lembrei de ter entrado em casa correndo procurando abrigo no escuro do meu quarto. Mas porque me importei tanto por aquilo? É claro que não gostei de ser enganada desse jeito. Mas será que teria sido igual se fosse com outra pessoa, se a situação fosse outra? É claro que sim. Não gosto de ser enganada, pronto.
            Preciso de um banho.

            Depois do banho corri para tomar meu café-da-manhã. Acabei me demorando demais para me trocar e já estava ficando atrasada. Desci para a garagem.
            Droga! Esqueci que não vim de carro.
            Ouvi um barulho de motor ligado.
            Conheço esse som.

– O que você está fazendo aqui? – Bruna estava encostada em sua moto preta com o motor roncando olhando para o portão.
– Seu carro ficou no estacionamento da faculdade não é!? Você precisa de uma carona. – me assustei vendo-a aqui e a essa hora da manhã ­– Estou desde as seis da manhã. Não sabia a que horas você saía. Até que não precisei esperar muito. Não sabia se você trabalhava, pelo menos não me parece que precisa.
-Não acredito. Você ainda vem falar da forma como vivo? Não preciso de carona ok?! Posso muito bem pegar um táxi ou até transporte público. Perdeu seu tempo.
Saí andando me distanciando dela.
–Julia! – me seguiu enquanto eu andava – Me desculpe, não quis dizer isso. – esperou, mas como viu que eu não ia responder nada continuou – Não seja orgulhosa. Eu sei que você quer a carona. Por favor, me deixe retribuir pelo erro que cometi. Por favor? Eu realmente me sinto em dívida com você. Olha, me desculpa. Eu sei que não deveria ter feito aquilo.
– E por que fez? – parei e a encarei pegando-a de surpresa.
– Por que sou uma idiota que não perde a oportunidade de ser mais idiota, tá legal!?
– E por que você se importa agora? Você nem me conhece.
– Mais do que imagina.
      Voltei a andar, não acreditava no que ouvia. Ela ia mesmo continuar com o joguinho? – Não me venha com essa, você já me provou que não houve nada.
– Por favor, Julia, me desculpe ok!? – seu rosto mudou para uma expressão de leve súplica, já estava ao meu lado no meio do quarteirão – Não falarei nada durante o caminho. Pare de se fazer de rebelde e sobe na moto, vai. Por favor. – deu uma pausa me vendo lutar comigo mesma silenciosamente – Pelo menos vai economizar alguma grana. – parei por um tempo pensando, ela ao meu lado esperando com uma cara de criança em loja de brinquedo pedindo a nova boneca aos pais.
– Vou aceitar a carona só porque não sei que ônibus pegar daqui. Me deixa na faculdade  para eu poder meu carro. Mas depois disso não quero mais saber de você, ok?
- Como quiser. – era óbvio que estava triunfando por baixo da máscara de contenção que cobria seu rosto. Ela me ofereceu um capacete, aceitei com relutância fazendo questão de mostrar isso encarando ela e fazendo uma careta de desdém. Subi na moto logo depois dela.

Os primeiros dez minutos passaram em total silêncio.
– Dormiu bem essa noite?
– Você não ia falar nada, lembra?
– Ta legal, ta legal. Desculpe.
Mas não se passariam nem dois minutos.
- Estou realmente arrependida pelo que fiz. Gostaria que soubesse disso.
-Que bom.
      Ela silenciou novamente.
– A história que me contou, é verdade? A do poker?
– Sim. Tudo verdade.
– E falta alguma coisa para me contar?
      Ela pareceu vacilar.
– Não, isso é tudo.
            Muito estranho. Parecia que ia falar mais alguma coisa.
– Não está me escondendo nada?
– Não, o que mais poderia te dizer? – riu meio sem graça – E aí, ainda vai fingir que não me conhece no corredor? Ou tem mais perguntas para me fazer antes de me considerar gente?
– Perguntas sempre terei. Mas ainda preciso pensar no seu caso quanto a te conhecer. – falei num tom sério.
Ela parou a moto em frente à universidade.
– Já pensou no meu caso?
– Já. – enrolei um pouco para responder vendo a inquietude dela. – Prazer, meu nome é Julia.
– Prazer, Bruna. – respondeu com um enorme sorriso no rosto.
– Bom, te vejo por aí pela universidade, certo? Realmente preciso ir trabalhar, senão o careca, ou melhor, meu chefe vai me matar, e claro que depois ele me ressuscita para terminar o pedido para os fornecedores. – nunca fui muito boa para piadas.
      Não dei muito tempo para despedida, saí andando, fugindo daquela cena quase constrangedora.

            No resto dessa semana e na semana seguinte, só vi Bruna passando pelos corredores. Não havia muito o que conversar, então basicamente acenávamos uma para outra e cada uma seguia seu rumo. Isso era constrangedor.
            Também, não foi um começo de amizade muito bom não é mesmo!?
      Ah, e a menina loirinha, Vanessa acho... nunca mais a vi. Não que eu me importe, claro.

      As provas semestrais começaram. É o tormento para todos os estudantes. Principalmente para aqueles que precisam de nota. Isso inclui eu.
– Nossa, não vejo a hora de acabar essas malditas provas! Estudar cansa! – disse Paolo enquanto estudávamos antes da prova de cálculo.
– Nem me fale! Ainda bem que amanhã é a última prova.
– Sabe o que vamos precisar depois de amanhã? Comemoração! Minhas notas estão ótimas e preciso sair para comemorar. Vamos marcar balada na sexta?
– Qual?
– É uma nova que quero conhecer. Disseram que é muito boa. – respondeu muito entusiasmado.
– E onde fica?
– É perto da sua casa. Ah, deixa de ser chata e vamos vai.
– Tá, mas quem mais vai?
– Vamos chamar só o Gui e a Pamela. – se inclinou e continuou falando baixo só para eu ouvir – Não vou muito com a cara da Amanda.
– Acho que pode ser vai. Faz um tempo que não saio mesmo para dançar.
– Faz um tempo tipo...uma semana né!?
– Ah, realmente faz um tempo não acha? – rimos disso. – Agora vamos voltar a estudar senão não vou poder sair amanhã.

      Cheguei em casa exausta por causa da prova de cálculo. O pior é que fui péssima. Com certeza vou tirar nota baixa. Me atirei na cama com preguiça de ir tomar banho, mas depois de muita relutância consegui criar coragem de ir para o chuveiro.
      Algo me veio enquanto estava no banheiro. Eu poderia chamar a Bruna. Mas será que não vai ficar muito em cima da hora chamar só amanhã na faculdade?

– Espera! Eu tenho o telefone dela. – falei comigo mesma, me assustando com a quebra de silêncio repentino.
      Vesti meu roupão e saí do banheiro em busca daquele pedaço de papel que tirei da minha bolsa daquela segunda feira que conheci Bruna. Eu tinha jogado fora. Será que alguém levou o lixo do meu quarto? Era quase certo que sim, embora havia algum tempo que minha mãe não entrava no meu quarto.
      No cesto de lixo haviam muitos papéis. E foi em um dos primeiros que achei o papel com o nome dela e um número de telefone celular embaixo. Consultei o relógio. Claro que já era muito tarde para ligar para ela. Seria falta de educação. E se eu a acordasse? Não, vou esperar para amanhã. Amanhã no serviço eu ligo para ela.
      Guardei o papel na carteira e marquei o número na memória do meu celular. Vesti minha camisola branca que tanto gostava e deitei na cama, acomodando o travesseiro e o edredon.
     
      Passados alguns minutos, ainda não tinha dormido. De uma hora para outra fiquei ansiosa. Não vou conseguir dormir enquanto não ligar para ela.
      Olhei no relógio novamente – 11H30. Acho que não vou acordá-la, ela também deve ter tido prova. Levantei da cama sentindo o ar frio noturno batendo na pele que não estava coberta pela camisola. Peguei meu celular e disquei, sem pensar, para o número de Bruna.
      Somente quando a garota atendeu é que pensei que não sabia como convidar. Desliguei quando ouvi a voz dela.
      Ao menos não estava com voz de sono. Ok, vamos de novo. Dessa vez encare.

–Alô? – a voz de Bruna não era muito diferente no telefone.
– Bruna?
– É ela. Quem está falando?
– Oi, é a Julia. Você me deixou seu telefone. Lembra?
– Ah, oi, Julia. Lembro, mas não pensei que você o usaria. E aí, tudo bem?
– A-h, tudo bem. – quase gaguejo – E como estão indo as provas?
– Só tenho duas provas na verdade. Só prova de teoria, matérias práticas tem prova. E as suas?
– Também só tenho prova de teoria, mas esse ano a maioria é teoria. Amanhã farei a última. E na verdade foi por isso que liguei. Amanhã por ser a última prova estamos pensando em sair para comemorar. Vamos a uma baladinha aqui para estes lados. Pensei se você não gostaria de ir com a gente.
– A-h, nossa. Me pegou de surpresa.
– Ah, desculpe se está muito em cima da hora... – fiquei sem jeito, quase desligo.
– Não, não é isso. – ela acrescentou depressa – Então, realmente para amanhã não tenho nada marcado. Mas acho que não conheço ninguém da sua turma...
– Você pode levar quem você quiser. Acho que vamos em dois carros de qualquer forma.
– Hm. – pareceu que Bruna estava pensando no assunto.
– É claro que não precisa responder agora. Vamos fazer o seguinte: se quiser ir me encontra na frente da minha sala depois da sua prova. Você e quem você quiser levar, é claro.
– Tudo bem, pode ser assim.
– Então, tá.
– Boa noite, Julia. Até amanhã
– Bo-a no-ite.

      Até amanhã? Então ela está pensando seriamente em ir?
      Voltei para cama inconscientemente, muda.
      Percebi que a ansiosidade não havia passado, somente aumentado. E essa noite e o dia de amanhã seriam longos, esperando pela figura de Bruna aparecer na porta da sala.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Amnésia Alcóolica, fato ou mito?

Oláa!
Não, hoje não é dia de postar um capítulo, infelizmente. Mas achei esse artigo muito interessante da escritora e blogueira Diedra Roiz que gostaria de dividir com vocês. Para quem não sabe a Diedra tem um livro publicado pela editora Malagueta com o gênero lésbico. Ela também é colunista do portal Parada Lésbica e publica outras histórias do gênero em seu próprio blog: Diedra Roiz 
Algumas pessoas que leram a minha história já me disseram: "Mas a Julia não esqueceu mesmo, né?! Esse negócio de esquecer o que aconteceu é mito, o pessoal inventa pra não ter que responder pelos atos enquanto estão bêbados". Bom, eu realmente não teria como saber, pois nunca tomei um porre. xD
Mas o artigo da Diedra fala justamento sobre a amnésia alcóolica.  E realmente existe! A pessoa bebe todas, conversa e interage com todo mundo e quando acorda não sabe onde está.. ou com quem passou a noite passada.
A Julia sabe muito bem disso, e acreditem, já está até acostumada.
Para ler o artigo da Diedra na íntegra, esse é o link: Noite Passada?
E para quem quiser saber um pouco mais como é a amnésia alcóolica, e quem tem mais chances de acordar na cama de algum desconhecido, este é o link: Anti Drogas 
Cuidado mocinhas com quem andas e o que bebes. ;)
Até breve!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Capítulo 5

Oláa!
Antes de postar mais um capítulo, queria primeiro agradecer aos comentários que deixaram por aqui. Não saberia descrever como fico feliz por lê-los. Não tem como não ficar motivada a continuar trazendo os capítulos e sempre tentar melhorar para agradar os poucos, mas bons leitores.
Queria agradecer principalmente a Luna-chan lá do blog Além da Luna pelo review de Vivendo o Acaso. Adorei o carinho. Muito obrigada mesmo, de coração.
Estarei trazendo novidades em breve e, prometo, que da próxima melhoro o preço do impresso. xD

Enquanto isso, sem mais delongas, aí está o capítulo 5!
Boa leitura e até logo!


5

– Grandes amigos você tem hein!? Te deixam sozinha neste estado. Será que vou sempre ter que te salvar das suas enrascadas?
– Você de novo? Me larga! Não preciso da sua ajuda. – ela estava me levantando da mesa onde estava praticamente jogada.
– Ah, claro. Como também não precisava na festa de domingo né!?
– Você quer repetir aquela noite? Vai aproveitar que estou bêbada para me levar para cama de novo? Olha amiga, – me virei para a acompanhante dela – cuidado hein!? Ela pega várias por aqui. É só vacilar um pouco...
– Não, hoje não vou te levar para a cama não. Desculpe te decepcionar. Mas se você quiser que te leve para a sua casa, eu te levo. Você não deveria dirigir nesse estado e seus amigos te largaram aqui. Quer que eu te leve? – disse Bruna que estava praticamente me carregando para fora do bar.
            A acompanhante dela deu uma leve balançada de cabeça pedindo para que Bruna não fizesse isso. Mas Bruna não deu atenção, estava me segurando enquanto eu vomitava no chão.
– Não tem outro jeito. Vou te levar para casa.
– Não, não precisa. Estou em plenas condições para dirigir... – Nesse exato momento mais vômito vinha.
– Nêssa, – aparentemente elas já eram íntimas – você pode ligar para sua irmã te pegar né!? Vou levá-la de moto. Já está tarde e não teria ônibus de volta para mim.
-Tudo bem. Acho que ela não se importa em vir me buscar. – a menina loirinha de corpo miúdo estava com uma cara fechada. Algo me dizia que essa aí não perdoaria Bruna.
– Espera aí! Moto? Não, não, não. Não vou andar numa coisa dessas.
-Você não tem muita escolha sabia? Agora vem. – Bruna me ajudou a andar me conduzindo pela rua. Sua moto estava parada na esquina, a alguns metros dali.

Nunca entendi muito bem de moto, mas essa era muito linda. E grande.
-Venha, suba. – completamente tonta quase caí quando tentei subir, mas Bruna estava lá para me segurar. – Pronto. Agora segure em mim ok!? Não solte. – abracei-a por trás recostando meu rosto em suas costas, na jaqueta de couro preta. Seu corpo de curvas perfeitas era pequeno. Entrelacei minhas mãos no abdômen dela. Segurança foi o que me veio em mente.
A moto se pôs a andar, devagar.
– E o capacete? – perguntei meio preocupada.
- Se você vomitar no meio do caminho não vai ser muito agradável se estiver de capacete. E sem falar que é mais fácil de te ouvir sem eles. Então, onde você mora?
– Ah tá. – parecia que ela estava sempre pensando em tudo – Moro na zona oeste. – respondi meio sem jeito – Vou mostrando o caminho.
– Tem certeza que vai conseguir essa proeza? Se segurar e mostrar o caminho ao mesmo tempo? – falava num tom de divertimento.
– Ahan... já estou melhorando. Me recupero rápido sabia?!
-Sei. – isso era um tom de sarcasmo?

– Diga-me – começou ela depois de algum tempo de silêncio – quantos dias por semana você consegue se manter sóbria?
– Muito menos nessa semana. – respondi categoricamente.
– E por que tanto bebe?
– Porque sou feliz! – gritei esticando meus braços com muito mais impulso do que esperava. Quase caí para trás, mas antes consegui me segurar novamente em Bruna.
– Estou vendo. Num dia desses essa felicidade te mata. – não sei se falou para eu ouvir ou não, pois o tom era muito baixo misturado com o ronco do motor.
Mais alguns minutos passaram e só eu falava, quando era para mostrar o caminho.

– Então, quantos anos você tem? Não parece ser muito mais velha que eu. – perguntei para quebrar o silêncio.
– Faço 24, mês que vem.
– Ah. Tenho 20.
– Eu sei. – disse numa voz de indiferença.

Mais algum tempo passou sem que nenhuma dissesse nada.

– Então, você faz faculdade do que? – não aguentei o silêncio.
– Fotografia. – respondeu mostrando indiferença.
– Uau! Diferente. – era algo que não tinha imaginado – Faço arquitetura.
– É, eu sei.
– Você sabe tudo sobre mim? – perguntei meio assustada.
– Fui à sua sala não lembra? Tinha uma placa na porta indicando que curso era.
– Hmm. Isso explica.  E que moto é essa? – desviei um pouco o assunto – É grande. Bonita. Preta. – dei uma risada baixa.
– É uma Harley Davidson. Modelo Fat Boy. – o mesmo tom de indiferença. Será que minha companhia é tão ruim assim? Cadê aquele jeito descolado e que gostava de me perturbar. Tem algo estranho...
– Bacana.
– Qual o número da sua casa? É essa a rua né?!
                  Mas já chegamos? – pensei.
– Casa 595.
Realmente a viagem não demorou muito. Logo a moto negra parou próxima ao meio fio e eu desci cambaleante para a calçada.
            O bairro Villa Lobos é um típico bairro de classe média-alta da cidade. As ruas eram mais retas e sempre monótonas. Naquela hora mais ainda, pois já eram duas da manhã.
– Então, a gente se vê na faculdade? – perguntei meio sem graça com a situação de despedida.
- Então agora você quer me ver? E aquela história de que se encontrasse no corredor fingir que não te conhe... - O que estou fazendo? O que me deu para beijá-la?
Foi um beijo com urgência, amanado pela outra garota.
E agora o que houve?
– Julia. Para. Para, Julia. Melhor não. Você está bêbada. Não vai querer se arrepender de nada não é mesmo?!
– Mas de acordo com o que você disse, já fui além de um beijo não é!?
– Julia, você tem que aprender a não ouvir pessoas desconhecidas. – ela estava estranha, olhava para baixo desconcertada e vacilante – Não aconteceu nada naquela noite. – encarei-a confusa procurando explicação em seus olhos.
– Escuta, –ela sustentou meu olhar incrédulo que dividia em raiva e frustação – nós estávamos na mesma festa, aquela na casa do Freddie. Uns amigos queriam sair de lá, estava muito ruim. O Rubens estava te acompanhando ­– ou você estava acompanhando ele, não sei – e te levou junto ao meu apartamento. Nós bebemos muito, estávamos jogando strip poker – as apostas eram nossas peças de roupas ­– e você acabou dormindo depois do jogo. É claro que eles não iam te levar para casa. Ou melhor, eu não deixei te levarem. Estavam muito bêbados e era perigoso demais. Então disse que você poderia passar a noite lá. Desculpe, não resisti fazer a brincadeira, e sei que não foi certo. Só queria ter te contado quando estava sóbria.

            Já estava andando, me afastando da moto, atordoada pela revelação, da brincadeira de mau gosto.
– Desculpe, Julia. – ela correi tentando me segurar pelo braço, mas não deixei e continuei me afastando dela.  Sinto muito mesmo.
– Não diga mais nada. – quase gritei, em explosão – Estou feliz que não aconteceu nada. Assim não fico mais com peso na consciência pelo erro que cometi. – reforcei bem a palavra para que ela entendesse o recado. Continuei andando até encontrar a porta de casa. A essa altura as lágrimas já corriam pelo rosto.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Capítulo 4

Oláa!
Sei que deveria ter postado na segunda e talz, mas tive um pequeno grande problema com a internet. Desculpe por fazer esperar, mas aqui está mais um capítulo. ^^'
Boa leitura!
E não deixe de comentar!!!

4



            Abri os olhos com relutância quando o despertador tocou às seis e meia da manhã. Pelo menos estava em casa. Mas dessa vez as lembranças do dia anterior estavam presentes. Tinha voltado cedo para casa, dormi bem e tinha que me preparar psicologicamente para o dia que viria. Não quero aturar clientes chatos ligando para reclamar que a entrega está atrasada, que o produto foi com defeito. Sempre sobra para mim, a secretária. E nem pagam tão bem. Hoje não teria escapatória do trabalho.
            Levantei da cama para seguir a rotina da semana. Banho, café-da-manhã, carro, avenidas apinhadas de outros veículos, escritório entediante, mil ligações por dia, aguentar o chefe reclamando que eu não conseguia passar uma semana sem faltar pelo menos um dia:
                  — Se você faltar mais uma vez este mês, você está no olho da rua, me entendeu? Espero que esteja claro. — Sei que ainda não me demitiram porque eles precisavam de mim. Não é qualquer pessoa que aturaria um local de trabalho todo empoeirado e barulhento. Trabalhar em um depósito de materiais de construção podia ser desgastante e também perigoso à saúde.

            O dia todo foi cheio. Não dava tempo para pensar em mais nada a não ser parafusos, pregos, pisos, telhas, buchas. Saí de lá no horário habitual, seis horas da tarde. Quarenta minutos depois eu estaria na faculdade. Não posso dizer que estava ansiosa para ir para a aula. Na verdade eu iria levar a sério o que falei para a Bruna, mas alguma coisa dentro de mim gritava querendo vê-la. Sei que isso não é normal. Mas é explicável pelo o que aconteceu. Eu não tinha certeza se havia rolado algo entre a gente ou não. Já estava acreditando que o que ela falara, realmente aconteceu. E isso estava me apavorando e, agora, eu precisava da verdade.

            Estacionei meu carro na vaga de sempre. A faculdade já estava cheia, as aulas começariam em 20 minutos. Não teria tempo de procurá-la. E se ela me visse procurando-a, perceberia que não ia levar a sério o que falei. Fui direto para a sala. Eu tinha decidido não ficar procurando pela faculdade por ela. Aturei as duas primeiras aulas e consegui prestar atenção na maioria do tempo. No intervalo uns amigos insistiram para que nós descêssemos para comer alguma coisa. Acabei indo. Os olhos passaram por todos no saguão, por simples impulso. Mas como não a vi consegui relaxar um pouco. O intervalo estava quase acabando e subimos as escadas, ficamos enrolando no corredor. Além de mim estavam na conversa Pamela, Paolo e Gui, quase o quarteto inseparável. Paolo é o mais divertido, é daquelas bichas descaradas que adora uma boa conversa entre mulheres e sabe tudo sobre moda.
— O “gaydar” do Paolo é mais aguçado do que de outros gays, não é possível! A Julia está de prova, ele não dá uma fora! Não é Julia? — Pamela me pegou desprevenida enquanto minha cabeça estava longe.
— Oi? Ah! O Paolo em balada — ele olhava para nós incrédulo — é pior que mulher no shopping atrás de liquidação! Se bem que ele no shopping em liquidação também é muito engraçado!
— Não acredito no que estou ouvindo!  Que blasfêmia! — seu jeito de gesticular era único. Arrumou os óculos Armani com as duas mãos e continuou: — Só tenho um pouco de prática, só isso.
— Você é um puto mesmo! — se manifestou Gui levando todos às gargalhadas. — Mas gaydar todo mundo tem, ou pelo menos desenvolvemos. Hoje em dia virou questão de sobrevivência.
— Ai, que horror! Não concordo. Ou pelo menos acho que o gaydar dos gays são mais aguçados mesmo.
— Vamos fazer um teste então? — propôs Pamela empolgada — Aposto que aquele cara loiro ali do outro lado já pegou algum. — e apontou para um rapaz meio robusto com cara de machão que se mostrava interessado na conversa do seu colega.
— Ele não sei, — interveio Paolo — mas o gatinho que está conversando com ele eu já peguei!
— Que desperdício! — falei quando olhei direito para o rapaz alto e elegante que conversava animado.
— Mas assim não vale! As meninas vão saber identificar melhor as meninas oras. Vai tenta aí Pamela.
— Hum, deixe-me ver...aquela de cabelo preto e pele clara que está passando. Ela é não é!?
— Lógico que é! Mas essa não vale, já a vi pegando várias pelo campus, e uma mais bonita que a outra. Você já deve ter visto em algum lugar.
— Ah, já vi sim. Mas quem deve conhecer mesmo é a Julia, não é!? Não foi ela que foi na sala falar com você ontem, Julia?
       Por que será que não fiquei surpresa ao ver Bruna passando no corredor?
— É verdade, foi ela! — Gui estava analisando a garota e a reconheceu.
      — Ai, me pegaram! Seu gaydar me pegou, Pamela! — estavam todos rindo com a brincadeira e aproveitando o momento mudei logo de assunto — Ai gente, estou de saco cheio de aguentar o professor falar mais sobre fios e fases. Vamos para o bar! Hoje tem uma banda ao vivo tocando lá.
— Tá certo, eu topo. Mulher não entende nada de elétrica mesmo. — completou Gui antes de pegarmos nossas coisas na sala.

            O bar ficava na rua de trás da faculdade, não muito longe. Quinze minutos e já estávamos pedindo bebidas para todos. Na verdade não pretendia beber muito: dia de semana não dá para ficar de ressaca. Ainda teria que aturar alguns dias de trabalho até o final de semana.

            Já estava na terceira lata de cerveja e já tinha dançado umas cinco músicas da banda de reggae que tocava ao vivo, quando vejo as duas meninas de mãos dadas entrando no bar. Sentaram em umas das poucas mesas vazias e ali ficaram conversando.
Bruna estava com uma menina loira que aparentava ter uns 17 anos. Não tinha nem cara de que frequentava faculdade. Tentei não prestar atenção e fingir que não a vi ali. Mas depois que elas se levantaram para dançar e a se beijar, a coisa ficou insuportável. Ah, isso eu não vou aturar! Pelo menos não sóbria. Pedi umas doses de tequila enquanto puxava o primeiro cara para dançar.