terça-feira, 31 de maio de 2011

Não Gosto dos Meninos

Oláaa!
Não, hoje não tem novo capítulo de Vivendo o Acaso, mas venho com uma curta, porém valiosa, mensagem.
Não Gosto dos Meninos é um curta metragem com direção de André Matarazzo e Gustavo Ferri que retrata algumas opiniões de pessoas assumidamente homossexuais. O curta conta com depoimentos de 40 pessoas e suas histórias de como se descobriram e resolveram "sair do armário". Em meio à tanta discusão do tema pela mídia, com a PL122 - que é a lei que torna crime qualquer tipo de homofobia - e o Kit Gay - dois vídeos com temática educacional sobre o homossexualismo que seriam distribuídos e exibidos nas escolas do país, que foi revogado pela presidente Dilma - essas pessoas se abrem e entram nessa campanha nacional com cabeças erguidas mostrando a nós que eles não tem medo de se mostrar e dizer quem eles são: pessoas iguais a qualquer um.
Vale a pena assistir até o final.  Uma campanha brilhante e que merece ser divulgada!



Espero que gostem tanto quanto eu!
Até mais!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Capítulo 8

Oláa!
Ok, ok, não apareço por mais de dois meses e venho tão alegre?
Vou dar uma boa explicação: estava desapontada com a história. Não estava curtindo mesmo.
A história tomou um rumo que eu não esperava e fugiu do contexto principal que eu havia imaginado ao começar a escrever. Voltei para analisar toda a história (mais uma vez) e vi várias rachaduras que precisaria fechar mais para frente ao desenvolver a continuação. Enfim, consegui por as ideias em ordem e vou tentar continuar a postar mais frequentemente. A ideia é terminar a história antes do fim do ano.
Será que consigo?

E antes de continuar com mais um capítulo e deixar todos em paz, tenho mais um recadinho. Enfim, como dito antes, o título e possíveis nomes podem ser alterados, assim como o conteúdo da história. Ao postar Vivendo o Acaso em um blog eu esperava por comentários que me ajudassem a escrever não só o que eu esperava de uma história com este gênero, mas também o que as pessoas que não estavam dentro da minha cabeça achariam das experiências não tão comuns da Julia. Como este gênero seria visto aos olhos de outros, pois me preocupava que não fosse muito aceito devido a recorrentes discussões na mídia sobre o assunto. E também, estou escrevendo há muito tempo e já estava perdendo a vontade de escrever, por isso com mais gente me ajudando a escrever talvez eu pudesse concluí-la. Enfim, espero que não se decepcionem com o resto da história. A partir daqui muitas coisas vão acontecer e espero condizer com tudo o que foi escrito aqui. Muito obrigada de novo pela atenção.

Até mais!

8

            O lugar em que entramos era diferente do que eu havia imaginado. As luzes eram fracas no lado do bar e se agitavam conforme chegavam à pista de dança. A casa estava cheia e a maioria das mesas com poltronas alinhadas estavam cheias com pessoas tentando conversar, apesar da música alta. Procuramos uma mesa vazia e pedimos bebidas. Pedi algo leve, uma batida, pois minha experiência com bebidas perto de Bruna foi uma catástrofe.
            Conversamos o máximo que podíamos, mas a música atrapalhava e logo desistimos. Paolo ficou observando a pista para ver se achava alguém interessante, e lógico que em pouco tempo sumiu.
            Por outro lado Gui e Pamela conversavam entre si. Esses dois são uma novela. De vez em quando estavam juntos, e do nada se separam. Acho que um não suporta o outro, mas também não conseguem ficar longe. Não dizem que opostos se atraem? Logo, também foram juntos para a pista dançar.
            Bruna e eu ficamos sobrando. Pelo seu rosto parecia estar curtindo a noite. Estava com esse sorriso de quando se está observando ao redor e pensando, coisas que eu não saberia nem ao menos imaginar. Eu não sabia puxar assunto, e como sempre, foi ela quem começou a conversar.

— Você não parece muito à vontade.
— Pareço?! — disse vendo que não poderia disfarçar.
— Quer dançar um pouco para se distrair? — fez o convite já esperando uma resposta positiva, pois já havia levantado e estendido a mão para mim.
— Dançar? Com você?
— Qual é! Eu não mordo. Só as vezes, quando pedem. — ela riu da minha cara de espanto. — Vamos, é brincadeira. Você nunca foi tímida. — disse com confiança pegando-me pela mão e me puxando, me levantando e conduzindo até a pista de dança. Lá, me soltou, talvez para não me constranger ainda mais.
            A música era agitada, uma música eletrônica, mas com algumas batidas de pop-rock. Bruna não dançava nenhum passo marcado, parecia que deixava a música fluir. Me encorajou a fazer o mesmo depois de me ver meio dura e parada. Olhei ao lado e ninguém parecia nos notar ali. Todos estavam ocupados demais se divertindo. Era muito estranho dançar enquanto não está com uma lata de cerveja na mão, ou no balcão tomando um shot de tequila.
            Enfim, tirei tudo da cabeça e comecei a dançar seguindo Bruna. Observava as pessoas dali: desinibidas, sendo elas mesmas. Talvez tenha sido esse clima de realidade e despreocupação que me acalmou e me fez sentir mais a vontade. Pensando bem, esse é o tipo de lugar que as pessoas podem ser elas mesmas, sem precisar bancar o diretor de uma multinacional, o médico sempre de branco como se fosse um santo, o trabalhador sempre fiel ao horário apesar dos trens lotados. Era um lugar verdadeiro. As pessoas vinham para se divertir e fugir um pouco do mundo “hétero” que impunham para elas.

            Depois do que parecia ter passado 20 minutos dançando a sede nos pegou.
— Vou beber algo. Você quer? — perguntei à Bruna.
— Claro, vou com você.
Fomos ao bar e pedi uma tônica; nada de álcool. Bruna pediu uma cerveja.
— É, parece que seus amigos sumiram. — disse ela encostada no balcão, já bebendo sua cerveja no gargalo da garrafa, observando a pista de dança.
— Ou fugiram da gente, o que está mais provável. Mas Paolo sempre foi assim, ele gosta de ir atrás dos homens. É quase uma piranha mesmo.
Continuei puxando assunto.
— Então, você já sabe tudo sobre mim, o que às vezes parece estranho; — fiz uma pausa para ver a reação dela e, com a indiferença sustentada no olhar dela, continuei — e eu não sei quase nada de você. Não quer me contar um pouco?
— Mas o que quer saber? Minha vida não é muito interessante. — virou-se me encarando, e seus olhos eram penetrantes, e os dentes a amostra desenhavam um riso gostoso.
— Comece falando, vejamos... em que você trabalha?
— Trabalho? Bom, não é um trabalho fixo. — falava de sua vida com uma certa displicência, articulando com a garrafa nas mãos. — Às vezes faço free lance como fotógrafa em buffet; você sabe...festas chatas.
Me mostrei interessada, não era a emoção que imaginava de Bruna; esperava um pouco mais... Motoqueira caçadora de recompensa. Claro que não achava realmente que Bruna fosse algo parecido com minhas fantasias, mas era divertido imaginá-a como fora da lei.
— Sei que não é muito, — ela continuou sem perceber meu breve devaneio — mas dá para pagar as contas com o dinheiro que tiro. E trabalho com o que gosto, que é a fotografia.
— Tinha outras teorias a respeito do seu trabalho... — confessei com uma risada. Ela chegou mais perto de mim, escorregando e se apoiando no balcão.
— Bem, adoraria ouvir sobre suas teorias...

— Bruna?
Um cabelo de várias cores se aproximou enquanto conversávamos, aparentemente reconhecendo Bruna.
— Natasha? — me surpreendendo, Bruna também a havia reconhecido.
— É você mesmo, Bruna! — a garota já estava abraçando Bruna, que se mostrava ao mesmo tempo espantada e alegre. — Te vi de longe e pensei que te conhecia, e estava certa! O que faz aqui? Está acompanhada?  — se vira e me nota ali. — Olá! — disse a mim empolgada.
— Natasha, — interveio Bruna — essa é Julia, uma colega da faculdade. Julia, — ela parecia vacilante — essa é Natasha, é minha...
— Ex-namorada. Namoramos pouco tempo, não deu muito certo. Parece que somos melhores como amigas do que como amantes não é mesmo? — Natasha atropelava as palavras.
— Mais ou menos isso. — Bruna parecia estar muito desconcertada com aquela situação. Mandou um olhar de desculpas, mas eu disse que não tinha problemas. E por quê teria?
— Mas como você está Bruna? Ainda fazendo faculdade então? Mas antes de responder você vem comigo, se a Julia deixar é claro. Tem um povinho que você conhece ali naquela mesa. A Tati e a Gabi estão ali e não acreditaram que era você. — Natasha estava radiante.
— A Tati e a Gabi? Nossa, quanto tempo que não as vejo. Vem Julia, vou te apresentar à umas amigas.
— C-claro, claro. — me puxou dando tempo somente para pegar nossas bebidas.
Na mesa estavam sentadas cinco garotas. Todas muito bonitas. Parecem que todas estavam em casal. Quando Bruna se aproximou duas se levantaram e a abraçaram.
— Gabi! Quanto tempo! Como você está? E Tati! Nossa, está linda.
— E olhe para você. Mas quanto tempo mesmo, desde quando? Desde que você e a Tasha se separaram. Vai fazer um ano?
— Na verdade já faz um ano e dois meses, Tati. Mas quem é que está contando? — disse Natasha rindo de orelha a orelha.

Todas estavam se divertindo matando a saudade. A Gabi tinha cabelos pretos longos bem escovados que iam até a cintura. A maquiagem a deixava muito bonita. E o vestido preto tomara que caia ainda mais. Já Tati era bem mais alta que Bruna e tinha um corpo grande e seu rosto um pouco redondo, mas ainda sim com sua beleza.
— Desculpem, deixe-me apresentar a Julia. Ela é uma colega da faculdade. Julia, essas são umas velhas amigas, essas são Tatiana e Gabriele. Nos conhecemos há muito tempo em um bar, onde também conheci a Tasha.
— Prazer. — disse meio sem jeito.
— Então, são amigas...? — perguntou Gabi a mim.
— Ah, sim! — respondi meio sem jeito, talvez depressa demais. — Nos conhecemos na faculdade há pouco tempo.
— Na verdade não nos conhecemos na faculdade, mas isso é outra história.
— Mas somos só amigas. — completei rápido para deixar claro e todas riram de meu desconforto.
Bruna sentou-se em uma cadeira vazia e começou a conversar com as amigas. Fiquei observando um pouco, em pé. Bruna estava muito feliz. Estavam conversando do tempo em que saíam todas juntas em casais, a Bruna junto de Tasha.
— Bruna, vou ao banheiro. Volto já. — disse a ela.
— Ok. — sua resposta era seca, pois estava muito interessada no que Gabi estava falando.
O banheiro era unissex e estava cheio. Tanto homens quanto mulheres esperavam sua vez de usar os reservados formando um fila que já ultrapassava a porta. Evitei de olhar os casais ali na fila, se beijando e passando a mão. Desviei da fila e fui ao lavatório. Molhei as mãos e o rosto pois estava molhado de suor. Olhei-me no espelho, e a garota que vi parecia aflita, e se parecia muito comigo, mas era diferente, de um jeito que eu nunca havia visto. Tentando ignorar o que via saí dali.
A passagem para fora do banheiro estava um pouco abarrotada e com algum esforço consegui sair. Tive que procurar a mesa delas. Encontrei-as a umas três mesas dali, mas não saí do lugar. A conversa que elas estavam tendo eu não queria escutar ou olhar; as mãos de Gabi estavam nas pernas de Bruna.
Um pouco desnorteada e sem pensar direito saí em procura de meus amigos, mas não consegui encontrar nenhum em nossa mesa que já estava sendo ocupada por outro grupo. Resolvi sair da casa.
Paguei minha conta apressada quase esquecendo o troco. Quando abro a porta, a chuva bate em meu rosto. Tentando me proteger da chuva com a minha bolsa, olho em busca de um táxi. Mas a rua estava cheia do trânsito. Mesmo com o semáforo aberto os carros não conseguiam passar. Fiquei um tempo ali medindo se valia a pena entrar novamente, mas não saberia inventar uma boa história para contar. Então me mantive ali, esperando que algum táxi passasse e que estivesse vazio.
Com a chuva e o frio que me dava, o tempo parecia ser longo. Algumas pessoas que saíam da balada olhavam, mas continuavam seu caminho. E foi uma delas que chamou meu nome.
— Julia! Julia, o que está fazendo? Aonde está indo?
Era Bruna, claro.
— Não sei. Não sei. Só quero ir embora.
— Mas ir embora por quê? — ela já estava tão molhada quanto eu.
— Não gostei daqui. Só isso.
— Mas precisa fugir desse jeito? Era só dizer que a gente ia embora.
— Acho que você não ia querer ir embora. Estava muito bem acompanhada.
— O que? Do que você está falando?
— Qual é? Aquela Gabi estava se insinuando toda.
— A Gabi é uma amiga. Nunca foi nada mais do que isso. E mesmo se ela quisesse, eu não quero nada com ela.
— Não quero saber. A vida é sua. Não tenho nada a ver com isso.
— Mas então por que se importa? Por que estava fugindo de mim se você não se importa com a minha vida? — ela procurou a resposta em meus olhos, mas nem mesmo eu sabia a responder.
— Eu não sei. Isso é novo para mim. Não sei. Eu vou embora daqui.
Corri para a rua, queria tentar atravessar para fugir dela. Quando ia passar pelo primeiro carro o trânsito foi liberado e o motorista de um ônibus não me viu. Quando ele me avistou já era tarde demais. Vi o farol dele chegando...
Aalgo me puxou para trás e me protegeu. Bruna me tirara da rua e me levou a salvo para a calçada.

— Pelo amor de Deus Julia! Você está bem? — Bruna perguntou aflita olhando de meu rosto para meus braços e pernas procurando alguma ferida.
— S-im, sim. — minhas palavras saíram fracas.
— Essa foi por pouco. Por favor, não tente mais fugir está bem?
Fiquei atônita, sentada na calçada, com Bruna me segurando. Não consegui me mexer. Olhava para a garota que acabara de me salvar, toda ensopada e olhando aflita para mim.
— Você está certa. Não posso mais fugir. Bruna, eu saí correndo pois não consegui ver você e aquela lá juntas. Não percebi que fugi por estar com ciúmes.
— O que você está dizendo? Por um acaso você bateu a cabeça? — apesar do riso forçado, ela pareceu muito preocupada e olhava de meus olhos para minha cabeça procurando por ferimentos.
— Bruna e-u...
Antes que ela pudesse falar qualquer coisa sobre batida de cabeça novamente, a beijei.
O toque de seus lábios era delicado e quente. Desta vez não houve hesitação, segurei seu rosto e ela me correspondeu. Ficamos ali naquela chuva até onde o fôlego agüentou. Eu ainda estava com os olhos fechados quando ela falou.
— Realmente não sei o que dizer. Ei, — sua voz era doce e carinhosa — olhe para mim. Está tudo bem?
Abri meus olhos e quando olhei para seu rosto, vi algo novo. Seu olhar era terno e me fitava com atenção.
— Vamos sair dessa chuva? — ela disse com delicadeza me pegando pelo braço e me levantando devagar.
Logo veio o constrangimento: muitas pessoas estavam nos olhando. Baixei meu rosto e acompanhei Bruna até a marquise do prédio. E lá ela nada mais falou. Procurou o cigarro nos bolsos da calça jeans e acendeu um tragando e observando a rua. Os carros estavam começando a andar, pois a chuva também estava parando. Depois de um tempo assim, após terminar seu cigarro, ela se virou para mim. Sua feição não havia mudado, terna e doce. E para minha surpresa falou:
— Vamos. Vou te deixar em casa.